1984. Nasci no ano em que a curva de todas as estatísticas populacionais chegou ao cume. Foi o ano em que mais nasceram bebês no Brasil – depois disso veio a derrocada da linha que mede nascimentos, começando a traçar o perfil de um País mais moderno (risos), enxuto, de famílias menores.
Eu, porém, não consigo parar de pensar que vou ter de conviver com esse fato a vida toda. Serei da turma que, pela lógica, em questões numéricas absolutas, vai ter enfrentado ao maior concorrência no vestibular (se a oferta de vagas não acompanhou a demanda).
Serei também da turma que terá menos espaço no trânsito abarrotado das ruas das grandes cidades. Serei mais anônimo ainda, já que tem mais gente querendo aparecer. Enfrentarei as maiores concorrências nas filas de bancos, cinemas, lojas, supermercados voltadas ao meu perfil – seja em que idade estiver.
E, talvez, o pior de tudo: se a Previdência Social não quebrar e ainda existir – terei a aposentadoria mais micha da história, proporcionalmente. A lógica idiota da seguridade social brasileira é de que quem trabalha paga a aposentadoria de quem chegou à inatividade.
Quando chegar minha vez, serão mais velhos parados do que jovens trabalhando. O cenário fica mais desanimador se levarmos em conta que, por isso, vão jogar a idade mínima de se aposentar às alturas. Imagine ter que trabalhar no mínimo até os 85 anos para se aposentar? Não foi à toa que fiz uma previdência privada, que funciona com uma espécie de poupança.
Às vezes fico pensando se há alguma vantagem em ter estar na faixa etária mais grossa da população. Talvez seja pela contaminação de uma visão pessimista nos últimos dias, mas até agora não consegui enxergar nada de bom. Será que alguém aí pode me dar um bom motivo?
O cabelo
Há 2 anos