quarta-feira, 24 de maio de 2006

E D I T O R I A L

Há tempos pensava em mudar meu blog. Percebia que não tinha muita motivação para escrever, a não ser quando precisava desabar. Mas isso não é coisa que a gente faz e publica para o mundo. Inspirado pela pós-graduação em Jornalismo Literário, resolvi aproveitar a deixa para praticar algumas vezes por aqui. Para os mais chegados fiquem tranqüilos que histórias sobre mim não faltarão. Reflexões pessoais e inserções do eu são de primordial importância em JL – como carinhosamente o chamamos na especialização. Estou como um vulcão em erupção, pronto para jorrar textos. Abraços a todos. Conto com os retornos de vocês sempre que possível. Abaixo meus primeiros e inconscientes passos pelo JL.

Quem sou eu e por que escolhi o jornalismo como profissão

Com esse texto fui selecionado para a entrevista do Curso Abril de Jornalismo. Aqui ele vai reduzido e reeditado. Hoje está em uma versão melhor do que foi realmente apresentado.

Foi aos poucos, uma conquista quase. Seria uma bobeira dizer que fui predestinado ou que nasci para isso. Mas o importante para mim é não inventar e sim contar, narrar. Só preciso traçar, árdua mas prazeirosamente, algumas linhas para explicar o porquê dessa escolha.

Imaginar quem está do outro lado, querendo me descobrir, desvendar, através das linhas. É isso que tento fazer ao escrever um texto. Qual será a sensação do leitor? Ele se interessará? Uma nota enxuta ou uma grande reportagem: tento considerar se aquilo que sai da minha mente e explode nos dedos, sobre o teclado, acrescentará algo à vida dele.

Há o que é fato, é certo. Se fosse responder ao básico, faria assim: (quem?) Eu, Rodrigo Alves, estudante determinado, (o que?) escolhi o Jornalismo (como?) assim que senti pela primeira vez o prazer de ler um texto de um almanaque, (quando?) depois que meu pai deixou de lado o jornal naquele domingo, (onde?) no sofá da sala de minha casa. O porquê? Queria ter o mesmo prazer que tivera ao ler os pequenos textos naquele almanaque.

Ao contrário, porém, prefiro contar uma boa história. Não só o "feijão com arroz", aquilo que entra nos moldes. Isso é para quem tem pressa de "matar a fome" e, ao contrário, eu gostaria de contar uma boa história aqui. Simples, singela, mas boa.

Ele era um garotinho, nascido em uma pequena cidade brasileira, no interior de Goiás. Vivia em um ambiente infantil, onde a noção de espaço e tempo não eram reais. Uma criança feliz, curiosa, que adorava registrar histórias que lia ou escutava de alguém. A mistura do urbano e o rural eram sua realidade. A princípio, imaginava ser aquele todo o universo da humanidade.

Coisas de criança – que ficaram para trás. Ele estudou, começou a crescer, conviver com pessoas diferentes. Viu que a diversidade das coisas e entre pessoas é grande. Descobriu um admirável mundo novo. "Como posso conhecer esse mundo?", se perguntou. A resposta veio aos poucos, iniciada por um fatídico evento.

Certo dia, ali, despretensiosamente jogado, estava um papel grande, cheio de letras. Colorido e recheado de palavras, figuras, fotos, aquilo lhe chamou a atenção. O que traria? Por que tanta gente gosta de ficar olhando? Com seu pouco conhecimento e muitas dúvidas, o garoto pegou e olhou. Leu uma história. Leu outra. Ficou com vontade de ler mais.

Que legais eram aquelas coisas escritas que contavam acontecimentos de outros lugares, que as pessoas gostavam de escrever para que outras lessem. Ao centro e em cima, em letras grandes e destacadas havia um grande nome: Almanaque. "Pai, daqui para frente, guarda pra mim?". "Claro", foi a resposta.

Talvez isso o ajude a entender minhas razões para ter escolhido o Jornalismo, leitor. Posso verdadeiramente dizer que é um prazer escrever para que depois você possa ler.

A ingrata, embora gostosa, prática do apurar e escrever, me conquistou. É comum ouvir como resposta "porque gosto de ler e escrever" à pergunta "por que você decidiu fazer Jornalismo?". Ler e escrever não é o suficiente. Quero ir além disso. Quero que meu leitor tenha o mesmo prazer que tive ao concluir meu pequeno projeto, tal qual um arquiteto vê a casa que projetou pronta, o médico, seu paciente curado ou o gari, as ruas limpas.

Gosto da dinâmica da profissão, da possibilidade de realização pessoal e da chance de aprender um pouco de tudo. Sempre. O mercado, esse ser invisível e complicado de entender, mostra que o texto é minha mercadoria. Sim, um produto. Mas não por isso devo produzi-lo sem prazer. É no casamento entre a realização pessoal de ver um pequeno projeto realizado e a prática do ganha-pão, que vejo razões para continuar com ele, o Jornalismo.

Jornalismo é envolvente. É prática que vicia. Um vício bom, que me leva a apurar, questionar, escrever e revisar à exaustão. Não deixa de ser profissão dura, com dificuldades. Remuneração baixa, na maioria dos casos. Mas é sedutor. Posso me tornar médico, advogado, publicitário, gari, vigia, funcionário público depois, mas o germe do jornalista vai ficar.

Ele, com suas 10 letras, formando a atraente, meticulosa e mística palavra não deixará jamais meu vocabulário básico. J-O-R-N-A-L-I-S-M-O. Um norte pelo qual rumo. Às vezes, tentado a deixá-lo, percebo só que já não consigo mais. Romântico? Sim. E por que não?