domingo, 2 de novembro de 2008

Meu orgulho em ser jornalista

Sentado, escrevendo, posso mudar o mundo. Sempre lutei por essa convicção.

Mas às vezes, alguns fatos bambeiam essa credulidade. Há algumas semanas, por exemplo, quando estava na editoria de Política, presenciei, horrorizado, a irresponsabilidade de alguns que se dizem jornalistas.

Havia chegado à redação a informação de que uma TV (concorrente) noticiou que um professor do Cefet em Goiânia gastara mais de R$10mil em um só mês com cartão corporativo, baseada apenas na informação de uma fonte oficial e um site de transparência (a informação realmente está lá, infelizmente mal detalhada, descobriria eu mais tarde).

Fomos checar, claro. Fazendo o básico do jornalismo responsável e descobri uma grosseira barriga da TV – o que no jargão jornalístico significa dar uma informação errada ou inexistente. Perdi uma tarde inteira de trabalho. No entanto valeu a pena: não repetiríamos o erro de ir somente pela fonte oficial, que deveria zelar pela verdade e pelo cuidado no que afirma, de acordo com o cargo que ocupa.

Diferente da TV fui mais embaixo no buraco e parti para uma apuração no lugar mais óbvio: o próprio Cefet. Sem muito esforço, tive acesso aos comprovantes que o professor anexara para justificar os gastos. Tratava-se de pagamentos de visitas técnicas com mais de cem alunos dos cursos de Hotelaria e Turismo naquele mês. O programa das disciplinas timbrado, a que também tive acesso, dava a prova final de que tudo aquilo fazia parte dos gastos normais do curso.

Terminei o dia arrasado: constatara, outra vez, que no afã do sensacionalismo, na vã ilusão de dar um furo ou simplesmente fazer barulho em troca de audiência, alguns que se dizem jornalistas fazem na verdade pseudo-jornalismo.

O contrapeso, felizmente, veio quando terminei de ler Coração Valoroso, testemunhou visceral de Mariane Pearl, auxiliada na escrita por Sarah Crichton. A obra conta, por dentro dos bastidores, a história do assassinato em 2002 do jornalista Daniel Pearl, repórter do Wall Street Journal, marido de Mariane, que mesmo debaixo do perigo não perdeu a convicção de que jornalismo de verdade é possível.

O fato ganhou destaque na mídia internacional. Para que não se lembra, tentado fazer seu trabalho, Daniel foi fisgado por uma cilada de terroristas ligados à organização Al Qaeda e morto por ser americano e judeu. Há muito ele reportava sobre os conflitos mundiais no pós-11 de setembro e deu grandes contribuições para que pessoas comuns, como eu e você, entendessem do que se tratava aquilo tudo.

Honesto com quem realmente interessa, seus leitores, Pearl foi traído pelo destino. Circulando por caminhos que o poderiam levar a risco de morte, foi em frente até as últimas conseqüências. Por conta de uma inocente credulidade nos seres humanos, caiu em uma armadilha do ódio e morreu a serviço de seus leitores.

O livro, infelizmente, recebeu uma descuidada versão em português na Editora Objetiva e não é um primor literário, apesar das lições valorosas. A quem interessar, foi filmado para o cinema em O Preço da Coragem, com Angelina Jolie no papel de Mariane. Mas vale a pena ser conferido especialmente por quem às vezes começa a perder as esperanças, como acontece comigo vez ou outra.

2 comentários:

Deire Assis disse...

pois é, mas deixa isso acontecer não. qdo vejo relatos como o seu, por exemplo, q busca fazer o velho e bom jornalismo, me encho de esperanças tb.

abç!

Lola disse...

Filme magnífico... comprei por se tratar de jornalismo de guerra e acabei me encantando... Comprarei o livro também... Bjos